Patologia grave e cada vez mais frequente na suinicultura actual.
É uma das mais importantes causas não infeciosas de doença em suínos, representando 7-13% da mortalidade total.
O que é?

Ocorre na zona da cárdia, a área superior do
estômago, que é a parte não glandular do
revestimento interno deste órgão (mucosa gástrica).
É facilmente diferenciada da mucosa glandular porque é lisa e branca ao contrário da mucosa circundante, rugosa e rosada. A área da cárdia não
segrega muco protector, ao contrário da restante mucosa gástrica.
xiste maior prevalência na genética moderna de crescimento magro e
rápido, sendo que a heritabilidade das úlceras gástricas é estimada em 0,52 (numa
escala de 0 a 1). Ocorre especialmente em porcos jovens e porcas reprodutoras,
especialmente na maternidade, representando elevadas perdas económicas.
A úlcera é o resultado de um desequilíbrio
entre os fatores agressivos (ácido clorídrico e enzimas digestivas) e protetores (muco alcalino, secreção de bicarbonato e substâncias como prostaglandinas que aumentam a circulação sanguínea e reduzem a produção de ácido). São
estes elementos protectores que impedem a redução do pH em torno da cárdia, com
consequentes danos nesses tecidos.


Uma vez danificada a camada mucosa protectora, as camadas internas são sensíveis aos ácidos e enzimas, ocorrendo lesão dos tecidos ( inflamação, erosão, e hemorragia).
O que o pode causar Úlceras ?
De um modo geral, qualquer factor que cause estômago vazio e desequilíbrio na fisiologia digestiva. As úlceras gástricas são multifactoriais. Quando a estratificação por camadas de pH (mais ácida na parte
inferior/glandular do estômago, e neutra na área superior perto da da cárdia) é perturbada, há potencial de ulceração.
1. Composição e estrutura da ração
Uma dieta rica em fibras de qualidade e com moenda grosseira proporcionam um conteúdo gástrico mais firme e homogéneo, resultando num pH gástrico mais alcalino e menos ácidos a tocar na área desprotegida da cárdia, levando a menos úlceras.
O milho moído finamente e gelatinizado que se encontra nos granulados contribui para as úlceras, pois aumenta a fluidez do conteúdo gástrico.
2. Maneio Alimentar e Stress
A alimentação muito restritiva, que leva a longas horas com o estômago vazio, aumenta a exposição da mucosa à atividade dos ácidos e enzimas, potenciando as úlceras gástricas.
Stress promove hormonas como o cortisol, que aumentam a inflamação e a suscetibilidade a doenças
3. Infecções, Contaminantes e Genética
Está provado que agentes como a bactéria Helicobacter suis bem como contaminantes da ração como os Alcaloides Pirrolizidínicos aumentam a incidência de úlceras, além da referida elevada predisposição genética.

Estádio das úlceras gástricas

Sintomas?
- Pele e mucosas pálidas (anemia).
- A perda de sangue no estômago leva a anemia e palidez.
- Comportamento inquieto, devido ao desconforto e dor abdominal.
- Apetite variável e/ou reduzido. Perda de condição corporal. A ingestão diária normal e digestão dos alimentos fica comprometida.
- Fezes escuras, devido à presença de sangue digerido.
- Morte súbita, por vezes com sangue na boca e no recto.
Como prevenir?
Estratégias alimentares
a) Moer grosseiramente os ingredientes, ( > 500µm tamanho de partícula), garantindo conteúdo gástrico menos fluido e movendo-se menos entre regiões glandulares e não glandulares do estômago;
b) Incluir matérias primas menos ulcerogénicas e formulação com níveis adequados de fibras não amiláceas;
c) Aumentar os minerais e vitaminas – especialmente o ferro quelatado para ajudar a compensar a perda de sangue, e a vitamina E pelo seu potente efeito antioxidante;
d) Incluir aditivos nutracêuticos como bicarbonato de sódio ou, preferencialmente, magnésio de elevada biodisponibilidade, para efeito de tamponamento gástrico e aumento do pH.
Estratégias de maneio
a) Evitar jejuns prolongados, assegurar que os comedouros não ficam totalmente vazios entre refeições nas reprodutoras, garantir espaço de comedouros suficientes nas engordas;
b) Alimentar ad libitum ou pelo menos 3 vezes por dia nas porcas, para reduzir a produção de ácido no estômago sem substrato;
c) Minimizar o stress, proporcionar espaço suficiente e materiais de enriquecimento ambiental, minimizando misturas entre lotes;
d) Descartar contaminantes e doenças. Avaliar herança genética. Fale com o seu Médico-Veterinário e com o seu Nutricionista.
Referências bibliográficas
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